quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Campo nem sempre bom...





Poderia ter uma história feliz para contar. Mas, não tenho. Ou melhor, tenho uma história linda para contar, que terminou com um show de realismo. Sabe quando você se sente capaz de alcançar a lua com os dedos das mãos, assoprar as nuvens, beijar as estrelas, de tão alto que os teus pensamentos e sentimentos vão? E de repente a única coisa que você sente são seus pés, fixos no chão, trêmulos. Vou deixando o lado poético de lado e vou narrando a situação. Fui ao município de Campo Bom, aqui mesmo no Rio Grande do Sul, para um show. Talvez o mais belo do ano. Acompanhado. Feliz, envolvido, entusiasmado, sabe quando você tinha fechado uma porta da sua vida, e ela aos poucos vai se abrindo e trazendo mais felicidade do que qualquer outra coisa. Nesse entusiasmo apaixonado, em uma parada de ônibus fui abordado por três policiais, cujo um em especial me indagou, referindo meu comportamento como sendo um tal de “gesto obsceno”. Um abraço, de suas pessoas que se gostam, em público foi tratado como obscenidade. E como último questionamento, o policial me perguntou se eu não tinha educação. Educação? Surtei. Para mim obscenidade é a “robalheira” sem escrúpulos que ocorre no governo brasileiro. Obsceno é uma mãe abandonar um filho no leito de um hospital. Obsceno é um deficiente físico não ter acesso a alguns lugares público. Um surdo não ser compreendido. Um amor não ser correspondido. É, a vida é mesmo cheia de obscenidades, esses atos impensados, que não devem ser expostos ao público. De fato, crimes, abandonos, estupros, agressões são mesmo gestos obscenos. Agora, os recatados que me desculpem, mas um abraço, um aperto de mão ou qualquer manifestação de afeto jamais será um ato obsceno. Amores podem ser puros ou marotos, levados ou calmos, intensos ou brandos, mas nunca serão obscenos! Porque todo ou qualquer tipo de amor deve ser demonstrado em público. Bom, diante disso, julgo desnecessária grandes explicações sobre eu ter ou não educação. Nesse sentido, meus pais foram impecáveis. Me ensinaram que não devo baixar minha cabeça para nada e que o que há de belo, deve ser manifesto, para contagiar, multiplicar, transcender. Preconceito na idade dos meus avós é compreensível, na dos meus pais questionável, na minha geração inadmissível, vindo de um funcionário de segurança pública, um crime. Mas, apesar do pequeno baque cultural, continuarei educado. Pois na minha educação, manifestar homo-afeto é natural, bonito, simplesmente flui. Não foi o primeiro preconceito, não será o último. O que não terei é preconceito comigo mesmo. A era dos armários acabou, quer você goste ou não de nos ter nas ruas, emanando amor, felicidade e entusiasmo. Me animei.

Um comentário:

  1. Como sempre!!! Arrasando!!!!
    é uma pena que esse tipo de coisa acontece... mas um dia quem sabe essas diferenças acabem!!!
    ahhh... qdo vai escrever o livro???
    Beijão

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